Centenário de Edson Carneiro e 50 anos da carta do samba
Dia 02 de Dezembro, comemorou-se o dia Nacional do Samba, este que tornou-se patrimônio imaterial da Cultura brasileira.
Mas dois momentos importantes relativos a essa data, passaram em branco aqui pelos lados de Sampa, inclusive por mim que faço parte da embaixada do Samba Paulistano e estou sempre atento as datas comemorativas que reverenciam o trabalho de nosso povo.
Primeiro o Centenário do grande mestre Edson Carneiro, estudioso do Samba e suas manifestações, que muito contribuiu para que nossa cultura fosse levada a sério.
Segundo os 50 anos do lançamento do manifesto intitulado “a carta do Samba” realizado no dia 02 de Dezembro de 1962, originando ai “O dia Nacional do Samba“.
Quem foi Edison Carneiro?
Nascido e criado na Bahia, onde cresceu numa grande casa que acolhia amigos de juventude para debates e reuniões sobre literatura e questões político-sociais, pela qual circulavam Jorge Amado, Guilherme Dias Gomes, Aydano Couto Ferraz, entre outros, Edison Carneiro teve seu interesse pela escrita e pelo estudo ali despertado, e nesse contexto fundou a Academia dos Rebeldes, com poetas, romancistas, cronistas e amigos.
Em 1936, o amigo Jorge Amado publicou no jornal O Estado da Bahia artigo sobre Edison Carneiro, por ocasião do lançamento de seu livro Religiões Negras, afirmando: “eu o admiro e o amo como a um irmão que sabe muito, que todo dia me ensina uma coisa nova”.
Já no Rio de Janeiro, na década de 1940, atuando em várias frentes de trabalho, publicou Candomblés da Bahia (1948), Antologia do Negro Brasileiro (1950), Dinâmica do Folclore (1950), Linguagem Popular da Bahia (1951), O Negro em Minas Gerais (1956), A Sabedoria Popular (1957), Samba de Umbigada (1961), O Folclore no Brasil (1963) e Ladinos e Crioulos (1964).
Em 1961 assumiu a direção da então Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, hoje Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, empreendendo nova dinâmica à instituição. Acalentando novos projetos, logo no início de seu mandato inaugurou a Biblioteca Amadeu Amaral e criou a Revista Brasileira de Folclore. Imbuído desse espírito de vanguarda, em dezembro de 1962 redigiu a Carta do Samba, publicada durante o encerramento do 1º Congresso Nacional do Samba. Nela propõe “medidas práticas e de fácil execução para preservar as características tradicionais do samba”. Registre-se que apenas a partir do ano 2000 surge uma legislação própria para a preservação de bens de natureza imaterial. Agora em 2012 também comemoramos o cinquentenário da “Carta”.
Edison foi demitido do cargo de diretor pelo regime militar em 1964.
Sobre o dia nacional do samba
Há alguns anos o dia 2 de dezembro vem se destacando no calendário cultural, como o “Dia Nacional do Samba”. A cada ano mais e mais instituições promovem eventos comemorativos à data do mais importante gênero musical brasileiro, sem, no entanto, esclarecer sobre, afinal, que fato histórico tornou esta data um dia marcante para o mundo do samba.
Admirador do gênero desde que nasci no famoso bairro de Oswaldo Cruz, sempre me inquietei por não ter essa questão respondida e por comemorar o samba em uma determinada data sem saber por quê.. Com a proximidade das comemorações do ano passado resolvi matar a minha curiosidade e desvendar o mistério.
De fato, depois de algumas consultas e pouca pesquisa, fui pego de surpresa com o que descobri. Partindo de apenas uma pista: a que dizia que o responsável pela indicação da data teria sido o então presidente da Confederação Brasileira das Escolas de Samba (CBES), Paulo Lamarão, situei o cenário onde tudo aconteceu: o I Congresso Nacional do Samba, realizado no Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, entre 28 de novembro e 2 de dezembro de 1962 e, patrocinado pela CBES em conjunto com a também extinta Associação Brasileira das Escolas de Samba (ABES), a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, o Conselho Federal de Cultura e a Ordem dos Músicos do Brasil.
Neste importante cenário foi sancionado a lei estadual do deputado Frota Aguiar declarando o dia 2 de dezembro, Dia do Samba, a partir do documento intitulado “Carta do Samba”, datado em 2 de dezembro de 1962 e, que continha recomendações formuladas no congresso por compositores, intérpretes, sambistas, estudiosos e admiradores. A carta tinha como objetivo preservar as características
tradicionais do samba e fazer frente às ameaças internas (samba-bolero, samba-choro, bossa nova, etc) e externas (rock, twist, etc), que segundo o teor do documento, poderiam causar desvirtuamento à origem do gênero.
Só para se ter uma ideia inicial, o Congresso discutiu em comissões, durante cinco dias, temas como ” A preservação das características tradicionais do samba”, “Os aspectos positivos e negativos da comercialização”, “Aspectos da instrumentação e orquestração”, “Coreografia”, “Proteção aos direitos de autor”, “Divulgação do samba no exterior”, “Fusão da CBES com a ABES” e a “Criação do Palácio do Samba”. Nessas discussões participaram, nada mais, nada menos, que figuras como Pixinguinha, Ari Barroso, Aracy de Almeida, Almirante, Pascoal Carlos Magno, Jota Efegê, José Ramos Tinhorâo, Paulo Tapajós, Donga, Sergio Cabral, Haroldo Costa, Marilia Batista, Paulo Lamarão (CBES), Servan Heitor de Carvalho (ABES), o maestro José Siqueira (Ordem dos Músicos) e o professor Edison Carneiro, relator das recomendações, que se transformaram nessa histórica “Carta do Samba”.
Segundo o relator, o Congresso Nacional do Samba valeu por uma tomada de consciência: aceitou-se a evolução normal do samba como expressão das alegrias e das tristezas do povo, mas também reconheceu-se os perigos que cercam essa evolução, buscando encontrar modos de neutralizá-los, sem uma conotação saudosista.
Certamente esse evento histórico valeu e valerá por muitos mais. Se ele não tivesse existido, não teria me dado tanta alegria e emoção por redescobri-lo, não teria nos dado um dia para comemorar e, não teria dado a pista para refrescar a memória do traço cultural que mais nos distingue como nacionalidade.
Essa memória, portanto, pertence a todos nós brasileiros, foi construída de ações humanas que mostram melhor o seu valor quando vistas com a lente do tempo. Por isso, não basta só comemorar, é preciso proteger e homenagear os nossos velhos e grandes sambistas, não só aqueles que nos deram esse fato para recordar, mas também aqueles que lutam diariamente para sobreviver e fazer sobreviver o nosso samba.
Jair Martins de Miranda (Produtor Cultural e um dos idealizadores do II Congresso do Samba)
50 anos após, esta data memorável, quase nos passa em branco, não fosse um lembrete dado num final do evento realizado no Museu Afro Brasil, para as comemorações do 20 de Novembro, informando da realização do II Congresso Nacional do Samba no Rio de Janeiro e nossa busca incessante por informações sobre o evento e como participar, talvez não estaríamos aqui neste momento falando deste maravilhoso evento e como foi nossa participação.
A distancia de São Paulo ao Rio de Janeiro são de 400 quilometros, mas em termos de investimento na cultura do Samba, a distancia parece daqui no Japão, primeiro porque no Rio, existe um investimento maciço dos órgãos governamentais, federal, estadual e municipal, para que as escolas de samba e entidades carnavalescas se organizem. Enquanto isso aqui em “Sampa“ ate agora, Dezembro de 2012, não havia sido assinado o contrato de carnaval entre os órgãos governamentais e as entidades que cuidam do espetáculo, isso só dificulta as entidades mais carentes, situadas na periferia de se prepararem para produzirem um grande espetáculo.
Essa falta de compromisso alinhada com o pensamento de algumas entidades na qual os presidentes se intitulam donos, montam a diretoria composta de parentes, não prestam contas a ninguém, e não vê a hora de receberem a verba destinada a entidade, para gastos em utensílios no mínimo duvidosos, nos levam ao descredito.
Esse e outros assuntos relevantes, foram pauta de discussões no II Congresso Nacional do Samba realizado na UNIRIO realizado nos dias 30 de Novembro com abertura na Camara Municipal do Rio de Janeiro, e 1 e 2 de Dezembro, pelo portal do carnaval que teve como temas no dia 01\12: I – A diversidade do Samba e o Patrimônio Cultural, II- O Samba e suas performances, III- Samba Carnaval e Redes Sociais, IV – Samba Carnaval e Direitos Autorais.
Dia 02\12: Temas I – Samba Economia Criativa do Carnaval e Globalização, II – Samba e Territorialidade, todos os temas seguiram-se de mesas redondas onde diversos pesquisadores apresentaram trabalhos de pesquisa e debateram com a comunidade esse rico momento.
O que nos surpreendeu foram o grande numero de jovens estudando este tema, e a quantidade de trabalhos inscritos para a seleção no congresso. Em nossa opinião, existe um distanciamento muito grande aqui em “Sampa“ entre os que estudam as performances do Samba e os dirigentes da maioria das entidades que congregam os mesmos.
Por isso, aqui vai uma alerta, Cuidado: “O Samba nosso de cada dia`, foi declarado como “Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro`, isso quer dizer que Escola de Samba não tem dono, nosso dever como “Embaixador de Samba Paulistano` e alertar, e apontar caminhos, o resultado final do II Congresso Nacional do Samba, pode ser um bom caminho a seguir.