“Ingrata vida do componente”, por Paulo Fabião.
Matéria atualizada 3 de março de 2015 às 18:00
Carnaval acabou, mas logo começa outro e por mais que nós o amamos, nestes dias onde o pós ainda é muito recente, saturação geral e até certo cansaço sobre o tema, assola nossas mentes. Por este motivo, não vou falar do campeonato, resultado, jurado, alegoria, beijo do Neguitão, ou qualquer tema que ainda está fresco. Nesta coluna de ressaca, falarei de um tema geral, mas não menos importante: O componente!
Em teoria componente é tudo mundo que desfila em uma Escola de Samba, vide as fichas técnicas: “Tal agremiação desfilará com 3.000 componentes”. Entretanto, na prática componente são aqueles que não são diretores, não possuem cargos, não tocam na bateria, nem são comissões de frente, passistas, destaques de alegorias, compositores ou velha-guarda. Componente é aquele que sai de fantasia comum em ala.
Pelo fato de, aparentemente, não ter outra função além de obter sua fantasia, vesti-la e desfilar, ele é tratado como ser inferior, para não dizer “semi-marginalizado”. Todo mundo que sai ou já saiu como componente, certamente já ouviu de alguém: “Ele não tem função nenhuma aqui, é APENAS um componente!”.
Porém, este “apenas” é muito relativo. A importância já deve ser dada pelo fato de 65% de um desfile só acontecer devido à existência de seres que se dispõem a vestir uma fantasia e compor uma ala. Mesmo assim, muitos ainda poderão dizer que o componente tem importância reduzida, pois não tem destaque nenhum, é apenas uma pequena parte de um todo (ala).
Na minha opinião, justamente esta despreocupação em obter algum destaque, é o que dá uma grande importante ao posto de componente! Ele está ali pelo prazer, só! Não tem obrigação nenhuma, inclusive a agremiação que ele desfila, foi escolhida simplesmente por amor, identificação, ou pelo menos, simpatia!
Além da pouca, ou nenhuma valorização, o componente enfrenta uma saga que pouco se dão conta:
O componente (exceto as alas de comunidade, mas isso nem todas, Agremiações tem) paga caro por sua fantasia! Além de dinheiro, se gasta tempo, pois ele vai à sua quadra ensaiar, além dos técnicos no Sambódromo. Ensaios estes que ele tem que aprender a cantar o samba-enredo (com empolgação) e quase sempre uma coreografia “natural” do mesmo.
No dia do desfile, o componente faz tudo, menos se divertir e brincar o carnaval! Além de vestir uma fantasia que quase nunca é confortável (cabeça, costeiro, sapatilha, etc…), ele é obrigado a chegar à quadra de sua agremiação muitas horas antes do desfile, e á partir de então, ele é proibido de comer, beber e fumar.
No desfile, ele tem poucos mais de 20 minutos para desfilar, e tem que ficar enfileirado de maneira correta na sua ala, assim, tendo pouca ou nenhuma liberdade para brincar, e jamais pode esquecer-se de desfilar cantando o samba e fazendo a coreografia aprendida nos ensaios!
Vale lembrar que durante todo este processo, desde seu primeiro ensaio até o desfile, certamente o componente recebeu muitas ordens, gritos e xingos de seus coordenadores de evolução e harmonias, mas dificilmente, ou nunca, receberá um mísero muito obrigado, mesmo no caso de título. Em algumas comemorações de título inclusive, componentes não são nem informados ou convidados!
Componente pode ser e sempre será anônimo, mas eles são verdadeiros heróis do carnaval!
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